sábado, 28 de novembro de 2015

Apetência

Quero fazer poesia assim:
Amarela, laranja, roxa...
Me meter nas tuas coxas,
Dizer ao mundo que vim.

Para namorar sua fantasia,
Risco nomes no papel.
Registro aquela nossa alegria
Numa nuvem dourada no céu.

Menina Bonita,
Poema Rimado.
Na frente, a marmita.
O banquete, ao lado.


"Apetência" é poema que só ganhou esse nome em função de sua publicação em Carnicidades. Não me recordo se fiz o poema para ser falado, mas ele se prestou (e se presta) bem a isso. O poema por muito tempo chamou-se "Quero fazer poesia assim", tal qual o seu primeiro verso. Muitos poemas meus nasceram sem título e vários dos que foram publicados no livro ganharam título durante o processo de sua edição, caso desse poema. O recitei muitas vezes em eventos de poesia, tanto sozinho quanto com o Boato. O vídeo aqui disponibilizado foi de uma apresentação no Cabaret da Poesia, evento apresentado pelo poeta Cairo Trindade, em 2011. Penso que o poema contém, na sua terceira e última estrofe, aquela passagem do lugar comum para o lugar incomum, própria da conceito de literariedade. Deve ter sido influência de minhas leituras de poesia, pois só depois de muito tempo a reconheci na teoria de Viktor Chklovski. O poema tem nas suas três estrofes três atos distintos. Começa com uma epígrafe confessional que lança o poeta no mundo. A segunda estrofe é um trecho propositadamente ingênuo, literatura menor, ou menos ainda, como "batatinha quando nasce esparrama pelo chão". Quase infantil, uma brincadeira, mas que aponta para uma metafísica. Finalmente, a terceira estrofe, conclusiva, mostro a oposição entre "marmita" e "banquete", esse último aludindo também ao diálogo platônico. Física e metafísica, concreto e abstrato, se misturando a metáforas possíveis, mas sem a intenção de serem indicadas claramente. 

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