sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Identidade

Sou o poema
o oco das formas
anjo barroco
mito.

Minto
a ela ideia
tê-la
mentira
ideia-tela:
cinema.

Na lua cheia
ilumino os amantes.

No breu
brincante e luz dos loucos.

Vivo 
nas linhas tortas de Deus
e na rota mordaz das quimeras.



Esse poema me reporta a uma fase em que eu estava escrevendo poemas para serem declamados no palco. O personagem, nesse caso, é o próprio poema, que se identifica enquanto tal. Poema que se oferece aos ouvidos e aos afetos. Poema que se vê na sua ambiguidade de ser. Lúdico desde a sua origem. Me chama a atenção o "minto/a ela ideia", como se quisesse subverter algo que viesse do racional e me entregasse ao fluxo das palavras, mesmo que breve e conciso. "Identidade" nasceu formado e posteriormente foi pouco trabalhado. Me recordo apenas de ter trocado apenas a última frase, que já foi escrita de vários modos até chegar à forma final publicada em Carnicidades. Apesar de ter sido um poema composto para ser falado em público, pouco me lembro dele ser encenado. Sei que foi algumas vezes, mas sempre lido. Nunca o decorei. Sua forma escrita sempre esteve presente em toda coletânea que pensei em fazer antes da publicação de Carnicidades.  Gosto do poema, talvez porque me identifique com ele, daí também ele ter recebido o nome "Identidade", Uma fantasia. Como um autorretrato em palavras. Um fotograma na sua aparente simplicidade, porém reveladora e sugestiva.